Alexandra Horowitz, professora de psicologia da Universidade de
Columbia, levava sua cadela Pumpernickel para passear e brincar por
praias e parques da Califórnia, onde fazia sua pós-graduação. Seus
estudos eram dedicados a observar animais sociáveis, como os
rinocerontes brancos e os bonobos --chimpanzés pigmeus.
Aos poucos, o olhar que usava durante a pesquisa permaneceu em suas
horas de lazer. Foi assim que o comportamento de sua cachorra e dos
outros caninos passou a indicar para a psicóloga mais que uma simples
brincadeira. Ela prestou atenção nas ações, viradas de cabeça e a
comunicação entre os animais.
O resultado é o livro "A Cabeça do Cachorro",
no qual ela disseca o comportamento do animal e de seu proprietário.
Após filmar os momentos no parque, Horowitz percebeu que o homem apenas
transporta as interpretações de si mesmo para os cães. Essa atitude gera
compreensões erradas.
Ela explica no volume como o bicho sente-se em casa, como compreende as
ações e comportamento do dono, a importância das brincadeiras, entre
outros. A principal ideia é a de que se esqueça tudo o que pensamos
saber sobre os cães. Segundo a pesquisadora, é preciso fazer um
exercício para enxergar o mundo como eles.
A sabedoria popular diz que um cachorro é a cara de seu dono. Os humanos
têm a tendência de antropomorfizar seus filhotes, e transpor
comportamentos e sentimentos próprios para o animal.
Uma das ações mais comuns é colocar roupas neles. No inverno ou na
chuva, é possível encontrar diversos animais passeando com seus donos,
vestidos com capas de chuva, coletes, saias ou fantasias. Horowitz
explica o que eles sentem exatamente ao serem envoltos com panos. Leia o
trecho abaixo:
*
Pegue minha capa de chuva, por favor
Será que nossas tendências para a antropomorfização dos cães estão tão
erradas assim? Sem dúvida que sim. Vejamos o exemplo das capas de chuva.
Há alguns pressupostos muito interessantes na fabricação e compra
desses minúsculos e elegantes trajes de quatro pernas para cachorros.
Deixemos de lado a questão acerca dos cães preferirem uma capa amarela
brilhante e resplandecente, quadriculada ou com uma estampa de gatos e
cachorros (evidente que eles preferem essa). Seus donos estão muito
bem-intencionados quando decidem vesti-los assim: talvez tenham
percebido que seus cães resistem a sair de casa nos dias de chuva.
Parece razoável concluir a partir dessa observação que o cão não gosta
de chuva.
Ele não gosta de chuva. O que isso significa? Significa que ele - assim
como muitos de nós - não deve gostar de sentir a chuva em seu corpo. Mas
essa é uma afirmação correta? Nesse caso, o próprio cão nos dá muitos
indícios claros. Ele fica animado e abana o rabo quando você pega a capa
de chuva? Isso parece apoiar a hipótese... Ou, ao contrário, a visão do
casaco talvez signifique para ele uma caminhada muito esperada. Ele
foge da capa? Coloca o rabo entre as pernas e abaixa a cabeça? Isso mina
a hipótese em questão, mas não a contradiz imediatamente. Ele parece
infeliz quando molhado? Sacode a água com entusiasmo? Nem confirma nem
contraria. O cão está sendo um pouco obscuro.
Nesse caso, o comportamento natural dos seus parentes caninos selvagens
prova ser bastante revelador a respeito do que os cães podem pensar
sobre as capas de chuva. Tanto os cães quanto os lobos possuem uma capa
permanentemente colada ao corpo. Uma só é suficiente: quando chove, os
lobos podem buscar abrigo, mas não se cobrem com materiais naturais.
Isso não indica a necessidade de protetores de chuva ou um interesse por
eles. Além de ser um casaco, a capa também é algo bem diferente: uma
cobertura fechada, e mesmo apertada, que cobre as costas, o peito e às
vezes a cabeça. Há ocasiões em que os lobos são pressionados nas costas e
na cabeça: quando são dominados por outro lobo, ou repreendidos por um
lobo parente ou mais velho. Muitas vezes, os dominantes imobilizam os
subordinados pelo focinho. Esse procedimento chama-se morder o focinho e
talvez explique por que, às vezes, os cães com focinheiras parecem
estranhamente submissos. O cão que "encurrala" outro cão é o dominante. O
subordinado sente a pressão do animal dominante sobre seu corpo. É
provável que a capa de chuva reproduza esse sentimento. Portanto, a
sensação principal provocada pela capa não é a de se sentir protegido da
umidade; ao contrário, ela produz a sensação desconfortável de que
alguém em uma posição superior a sua está por perto.
A validade dessa interpretação é reforçada pelo comportamento da maioria
dos cães quando são envoltos em uma capa de chuva: é possível que
fiquem imóveis por se sentirem "dominados". Pode-se observar o mesmo
comportamento quando um cão, resistindo ao banho, de repente para de se
agitar quando fica totalmente molhado ou é coberto por uma toalha pesada
e molhada. O cão pode até cooperar para sair, mas não porque gosta da
capa, e sim porque foi subjugado.* Claro que ele vai se molhar menos,
mas somos nós que gostamos de planejar isso, não o cão. A melhor maneira
de evitar esse tipo de equívoco é substituir nosso instinto
antropomorfizante pela leitura do comportamento. Na maioria dos casos,
essa troca é simples: basta perguntar ao cão o que ele quer. Tudo o que
você precisa é saber como traduzir essa resposta.
*Isso é semelhante ao que foi descoberto pelos pesquisadores
behavioristas que, em meados do século passado, expuseram cães de
laboratório a choques elétricos dos quais eles não podiam escapar. Mais
tarde, colocados em um recinto onde havia uma rota de escape visível,
esses cães mostraram desamparo aprendido: não tentaram escapar para
evitar o choque. Em vez disso, ficaram imobilizados, aparentemente
resignados a seu destino. Isso porque os pesquisadores haviam treinado
os cães para serem submissos e aceitarem sua falta de controle sobre a
situação. (Mais tarde, eles os forçaram a desaprender a resposta e
interromper os choques.) Felizmente, a época em que se praticava esse
tipo de experiência já passou.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br
Autora: Alezandra Horowitz
Editora: Best Seller
Páginas: 420
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha
Não sou contra a usarem roupas em cães, inclusive fizemos um post chamado Roupas de Cães: http://viralatando.blogspot.com.br/2013/01/roupas-de-caes.html . Mas devemos considerar como prioridade o conforto ao cão acima do que é simplesmente "bonitinho" ou "engracadinho".
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