quarta-feira, 13 de março de 2013

Professora de psicologia ensina a interpretar o seu cão



Alexandra Horowitz, professora de psicologia da Universidade de Columbia, levava sua cadela Pumpernickel para passear e brincar por praias e parques da Califórnia, onde fazia sua pós-graduação. Seus estudos eram dedicados a observar animais sociáveis, como os rinocerontes brancos e os bonobos --chimpanzés pigmeus.

Aos poucos, o olhar que usava durante a pesquisa permaneceu em suas horas de lazer. Foi assim que o comportamento de sua cachorra e dos outros caninos passou a indicar para a psicóloga mais que uma simples brincadeira. Ela prestou atenção nas ações, viradas de cabeça e a comunicação entre os animais. 

O resultado é o livro "A Cabeça do Cachorro", no qual ela disseca o comportamento do animal e de seu proprietário. Após filmar os momentos no parque, Horowitz percebeu que o homem apenas transporta as interpretações de si mesmo para os cães. Essa atitude gera compreensões erradas.

Ela explica no volume como o bicho sente-se em casa, como compreende as ações e comportamento do dono, a importância das brincadeiras, entre outros. A principal ideia é a de que se esqueça tudo o que pensamos saber sobre os cães. Segundo a pesquisadora, é preciso fazer um exercício para enxergar o mundo como eles.

A sabedoria popular diz que um cachorro é a cara de seu dono. Os humanos têm a tendência de antropomorfizar seus filhotes, e transpor comportamentos e sentimentos próprios para o animal. 

Uma das ações mais comuns é colocar roupas neles. No inverno ou na chuva, é possível encontrar diversos animais passeando com seus donos, vestidos com capas de chuva, coletes, saias ou fantasias. Horowitz explica o que eles sentem exatamente ao serem envoltos com panos. Leia o trecho abaixo: 

*

Pegue minha capa de chuva, por favor

Será que nossas tendências para a antropomorfização dos cães estão tão erradas assim? Sem dúvida que sim. Vejamos o exemplo das capas de chuva. Há alguns pressupostos muito interessantes na fabricação e compra desses minúsculos e elegantes trajes de quatro pernas para cachorros. Deixemos de lado a questão acerca dos cães preferirem uma capa amarela brilhante e resplandecente, quadriculada ou com uma estampa de gatos e cachorros (evidente que eles preferem essa). Seus donos estão muito bem-intencionados quando decidem vesti-los assim: talvez tenham percebido que seus cães resistem a sair de casa nos dias de chuva. Parece razoável concluir a partir dessa observação que o cão não gosta de chuva. 

Ele não gosta de chuva. O que isso significa? Significa que ele - assim como muitos de nós - não deve gostar de sentir a chuva em seu corpo. Mas essa é uma afirmação correta? Nesse caso, o próprio cão nos dá muitos indícios claros. Ele fica animado e abana o rabo quando você pega a capa de chuva? Isso parece apoiar a hipótese... Ou, ao contrário, a visão do casaco talvez signifique para ele uma caminhada muito esperada. Ele foge da capa? Coloca o rabo entre as pernas e abaixa a cabeça? Isso mina a hipótese em questão, mas não a contradiz imediatamente. Ele parece infeliz quando molhado? Sacode a água com entusiasmo? Nem confirma nem contraria. O cão está sendo um pouco obscuro. 

Nesse caso, o comportamento natural dos seus parentes caninos selvagens prova ser bastante revelador a respeito do que os cães podem pensar sobre as capas de chuva. Tanto os cães quanto os lobos possuem uma capa permanentemente colada ao corpo. Uma só é suficiente: quando chove, os lobos podem buscar abrigo, mas não se cobrem com materiais naturais. Isso não indica a necessidade de protetores de chuva ou um interesse por eles. Além de ser um casaco, a capa também é algo bem diferente: uma cobertura fechada, e mesmo apertada, que cobre as costas, o peito e às vezes a cabeça. Há ocasiões em que os lobos são pressionados nas costas e na cabeça: quando são dominados por outro lobo, ou repreendidos por um lobo parente ou mais velho. Muitas vezes, os dominantes imobilizam os subordinados pelo focinho. Esse procedimento chama-se morder o focinho e talvez explique por que, às vezes, os cães com focinheiras parecem estranhamente submissos. O cão que "encurrala" outro cão é o dominante. O subordinado sente a pressão do animal dominante sobre seu corpo. É provável que a capa de chuva reproduza esse sentimento. Portanto, a sensação principal provocada pela capa não é a de se sentir protegido da umidade; ao contrário, ela produz a sensação desconfortável de que alguém em uma posição superior a sua está por perto. 

A validade dessa interpretação é reforçada pelo comportamento da maioria dos cães quando são envoltos em uma capa de chuva: é possível que fiquem imóveis por se sentirem "dominados". Pode-se observar o mesmo comportamento quando um cão, resistindo ao banho, de repente para de se agitar quando fica totalmente molhado ou é coberto por uma toalha pesada e molhada. O cão pode até cooperar para sair, mas não porque gosta da capa, e sim porque foi subjugado.* Claro que ele vai se molhar menos, mas somos nós que gostamos de planejar isso, não o cão. A melhor maneira de evitar esse tipo de equívoco é substituir nosso instinto antropomorfizante pela leitura do comportamento. Na maioria dos casos, essa troca é simples: basta perguntar ao cão o que ele quer. Tudo o que você precisa é saber como traduzir essa resposta. 

*Isso é semelhante ao que foi descoberto pelos pesquisadores behavioristas que, em meados do século passado, expuseram cães de laboratório a choques elétricos dos quais eles não podiam escapar. Mais tarde, colocados em um recinto onde havia uma rota de escape visível, esses cães mostraram desamparo aprendido: não tentaram escapar para evitar o choque. Em vez disso, ficaram imobilizados, aparentemente resignados a seu destino. Isso porque os pesquisadores haviam treinado os cães para serem submissos e aceitarem sua falta de controle sobre a situação. (Mais tarde, eles os forçaram a desaprender a resposta e interromper os choques.) Felizmente, a época em que se praticava esse tipo de experiência já passou.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br

A Cabeça do Cachorro
Autora: Alezandra Horowitz
Editora: Best Seller
Páginas: 420
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha


Um comentário:

  1. Não sou contra a usarem roupas em cães, inclusive fizemos um post chamado Roupas de Cães: http://viralatando.blogspot.com.br/2013/01/roupas-de-caes.html . Mas devemos considerar como prioridade o conforto ao cão acima do que é simplesmente "bonitinho" ou "engracadinho".

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